segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

O estranho no ninho



Há uma maldição que acompanha o viajante em terras distantes. Muito embora ele seja recebido com generosas hospitalidades, sempre dele será exigido coisas que aos nativos, em geral, não são. Ele, além de estrangeiro, sempre será visto como um estranho.
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O mais comum é que lhe seja solicitado um atestado de integridade da saúde física e mental e outros semelhantes. Até mesmo comprovantes de qualidades das quais ele nunca se disse possuidor, mas lhe eram atribuídas.

- Cure o meu filho. Nem precisas ir ao encontro dele, basta uma palavra tua. Ele é o Enviado! – Prove que cura, prove que tu és o Enviado! Vozes que nem sempre se originam de bocas diferentes.

Difícil, quase que impossível, satisfazer tamanha expectativa. De modo que o estranho ou parte livremente ou será expulso. Nunca, jamais, ele será visto por todos como um entre nós. Nem adianta declarar que o “meu reino não é deste mundo”, pois haverá sempre a desconfiança de que se trata de um rei deste mundo, ou melhor, de um falso rei, de um possível usurpador.

- O que quer ele entre nós? – Ele declara que somos todos irmãos, que absurdo! Nós somos os eleitos, nada nós pedimos! Tudo já nos foi dado ou prometido por Deus. Já o estranho...

Ao declarar que perdoava quem lhe, por ventura, tenha feito um mal, causou escândalo. E ao declarar que amava a todos, inclusive ao inimigo, nada mais lhe foi dito. De fato, ali estava um estranho no ninho, que a tudo perturbava com a sua simples presença. Ele era um testemunho vivo de uma coisa que todos diziam ter, mas que de fato não possuíam.

Mais do que um testemunho da existência do amor, da possibilidade da existência de uma relação amorosa sem finalidades de lucros ou de trocas, ele era a prova viva da impossibilidade do outro de amar de forma extrema, sem pedidos permanentes de novos atestados.

Terras distantes, aqui, são nada mais que famílias que habitam em territórios de uma mesma nação, mas que - cada uma - forma um mundo particular. Assim, alguém que se aproxima, membro de outra família, é sempre um estranho no ninho.

Melquisedec, Vale do Mirante, aos dezenove dias de dezembro do ano de dois mil e doze da revelação da luz do Estranho.

Blog rafaelrag com o professor Hiran de Melo (UFCG)

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